Vinhas da Resiliência tem uma narrativa permeada
de realismo e ficção, sem fronteiras perceptíveis entre esses dois elementos,
visando deixar meus eventuais leitores sem saber a diferença entre o real e a
imaginação. O romance começa no século XVIII, contando a estória de duas
famílias de trabalhadores agrícolas do norte de Portugal que viviam como "boias
frias". Agenor, Maria, Aristides e Abigail se conheceram na estrada, tentando
escapar do esmagador regime de opressão econômica e social imposto pelos
latifundiários da região, e juntos, transformaram um terreno árido e pedregoso
em uma propriedade rural produtiva, na qual praticavam agricultura de
subsistência. Assim, unidos pelo desejo de superar o sofrimento, tornaram-se
amigos, sócios, e compartilharam uma vida de trabalho, honra e dignidade.
Aparício, filho de Agenor decidiu imigrar para o Brasil, pensando em fazer
fortuna no setor de mineração nas "Minas Gerais"; mas, acaba se instalando em
Campos dos Goytacazes, onde foi contratado em um engenho de açúcar.
Paralelamente à saga dos
portugueses, existe a estória de Do-Aklim, guerreiro africano de ascendência
nobre que travava uma luta inglória contra os traficantes de escravos na região,
mas acabou sacrificando a própria liberdade para livrar a pequena princesa
Chimaka das garras dos traficantes. Ao chegar no Brasil, Do-Aklim foi comprado
pelo temido Coronel Lustosa e o que parecia impossível aconteceu: os destinos
de Aparício e Do-Aklim se cruzam, e uma nova estória começa a ser narrada em um
tempo relativamente dilatado, através de uma trama que envolve várias gerações
e termina na segunda metade do século XX com uma inacreditável e belíssima estória
de amor.
Portanto, Vinhas da
Resiliência é uma estória de vida, sofrimento e esperança que atravessa as
fronteiras entre países, raças e religiões, uma estória que serve de ponte
entre homens e mulheres de boa vontade, uma estória que não tem explicação
simples, e talvez também não tenha um ponto final. Não obstante, os rastros da
trama original, claramente identificados como ganância, ódio, racismo, mas
também amor, solidariedade e compaixão, permanecem intimamente associados às
lutas por uma existência com dignidade e honra, que os filhos da África,
espalhados pelo mundo afora travam, ainda nos dias de hoje, em pleno século
XXI.